“Mas o que tu come?” Pura planta! / por Loris Valim

“Mas o que tu come?” Pura planta! / por Loris Valim

Quando a Roberta entrou em contato pedindo para eu fazer minha apresentação e contar um pouco da minha história, imediatamente eu pensei que seria algo simples, poucos parágrafos e memórias um pouco soltas.

Acontece que com esse pedido dela, veio o flashback de todo o percurso, senti muito orgulho do processo e muito feliz em lembrar do momento que considero o início da minha transformação. Outubro de 2016. Esse foi o momento exato da minha decisão em adotar um estilo de vida mais saudável. Estava cansada de me sentir doente, de estar sempre com alguma indisposição, desanimo ou com quadros sérios de enxaqueca. Não entendia como podia estar mais tempo com sintomas desagradáveis do que me sentindo verdadeiramente bem. Foi quando descobri a intolerância à lactose. Só tinha duas escolhas nessa hora: mudar meus hábitos alimentares ou continuar me sentindo mal. Que comece a novela!

 

Sei que passei a viver momentos tão plenos e maravilhosos, que acreditava não poder ser mais feliz, mas como nunca havia me sentido assim antes, começaram a surgir os medos e as inseguranças, comecei a sentir uma necessidade enorme de descobrir meu propósito e isso se tornou pesado demais.

Loris foi seu próprio laboratório de experiências gastronômicas e o hobbie virou empreendimento: a Pura Planta

Capítulo 1 – A REVIRAVOLTA! 

Foi então, de um dia para o outro, que eu decidi que não queria mais me sentir assim. Resolvi que queria mudar, mas mudar de verdade, física, emocional e mentalmente. Quem dera a mudança acontecesse de forma tão rápida quanto foi tomar essa decisão, mas não foi bem assim. 

Capítulo 2 – AS DIFICULDADES

Cresci no interior do estado do Rio Grande do Sul, com uma alimentação bem saudável e sem restrições. Na mesa do café, lembro do pão fresquinho, da rosca de polvilho feita pela vó no forno a lenha, do doce de leite (ah! o doce de leite), da nata, do queijo, da manteiga, da qualhada, do café com leite… espera aí, notaram a quantidade de vezes que o leite aparece presente nesses alimentos??? Pois é minha gente, aí está o porquê da “dificuldade”, como começar a cuidar da alimentação se o leite estava presente nas coisas que eu mais gostava de comer? Bom, ainda bem que somos seres evoluídos e adaptáveis e com muita determinação, resolvi me arriscar e experimentar mais. Se sempre deu certo? Não, muitas vezes não deu, mas dos erros vieram os acertos e disso surgiu uma nova paixão: gastronomia saudável.

Capítulo 3 – UM NOVO HOBBIE

Começou como um desafio pessoal, sem pretensão, apenas buscando maneiras de me alimentar melhor, de uma forma saudável, mas que a comida não perdesse o sabor. Foi de receita em receita que eu descobri o amor pela cozinha, pelo gesto de poder preparar a refeição e não adicionar apenas temperos, mas sentimentos e emoções. Aos poucos fui substituindo produtos industrializados e altamente processados por comida de verdade, comecei a descascar mais e desembalar menos. Acabei sendo meu próprio laboratório, aprendi a identificar o que era bom e o que não fazia bem para o meu corpo. Foi nessa fase que exclui alimentos com glúten e diminui a quantidade de carne. Aqui acho importante salientar a questão da individualidade nutricional, o que as vezes funciona para um indivíduo não funciona para outro, por isso a importância de aprender a escutar nosso corpo, e de descobrir o que melhor atende as nossas necessidades. Acho que o principal nessa fase, foi estar aberta as possibilidades. Descobri que precisamos pensar fora da caixa. Surgiu nesse momento um desejo de dividir com os outros um pouco dessa experiência culinária, mostrar que a comida de verdade pode ser nutritiva e saborosa.

Capítulo 4 – O PROCESSO MAIOR DE TRANSFORMAÇÃO

Sou péssima com datas, mas sei que em fevereiro de 2017 tomei uma das decisões mais importantes da minha vida, decidi que não iria mais comer carne (nota: peixe também é carne, embora até hoje algumas pessoas ainda me perguntem “mas nem peixe?”). Aqui não caberia explicar com palavras o que passei a sentir após tomar essa decisão, mas acho que amor foi o sentimento que melhor define esse momento. Posso dizer que fico feliz em estar colaborando com questões ambientais, até por que sabemos quanto a pecuária causa impactos negativos ao nosso planeta, mas poder olhar nos olhos de um animal e respeitar a vida desse ser, não tem preço! Esse é, com certeza, o capítulo mais importante dessa história! Foi aqui que surgiram tantos questionamentos, foi aqui que apareceu a clássica “mas o que tu comes então?” ou “tu só come salada?”. Foi uma fase muito interessante, descobri o apoio de pessoas que não imaginava, mas também senti o afastamento de pessoas que eu não esperava

Posso afirmar que foi o período mais bonito e mais difícil… Tive sempre o suporte incondicional do meu marido, que não só aceitou meu novo estilo de vida, como passou a fazer parte dele. Desse momento em diante optamos por não ter ou consumir carne em casa, acho isso de uma gentileza e respeito sem precedentes. Foram gestos assim que me fizeram perceber que eu estava cercada de amor e carinho e que isso é o que realmente importa.

Capitulo 5 – A CRISE

Sei que passei a viver momentos tão plenos e maravilhosos, que acreditava não poder ser mais feliz, mas como nunca havia me sentido assim antes, começaram a surgir os medos e as inseguranças, comecei a sentir uma necessidade enorme de descobrir meu propósito e isso se tornou pesado demais. Comecei a sentir muitas dúvidas, não sabia o que queria para o meu futuro, comecei a questionar se minha profissão me fazia feliz, sentia insegurança quanto ao que fazer, com o sentimento que queria tão desesperadamente manter que acabava sufocando. No desejo de querer passar aos outros um pouco do quanto essa mudança me fazia bem, acabei me frustrando e passei a ter crises sérias de bulimia (aqui caberia outro capítulo, mas como se refere ao meu passado, não vamos mexer nele, ao menos não por enquanto!). Foi então que me permiti 2 dias de introspecção, digo isso para não dizer que foram dois dias chorando muito, fazendo da cama e do quarto escuro meus melhores amigos. Senti muito medo de não conseguir sair daquele momento, mas pedi tanto a Deus, ao universo, que ele me escutou e me fez ver além do que eu estava sentindo. Foi nessa fase que escutei uma frase que ajudou muito, uma pessoa muito querida me disse “Tu não precisa ser um coisa ou outra, tu pode ser uma coisa e outra!”. Precisei descer muito pra descobrir que o meu propósito era levar um pouco da minha experiência aos outros, poder compartilhar minhas receitas, minhas alegrias, e por que não meus medos e minhas inseguranças?

Capitulo 6 – A GRANDE VIRADA

Alguns dias depois da crise, em uma daquelas conversas boas que a gente tem sentado no chão, conversando com o meu marido sobre esse desejo grande de poder compartilhar com os outros um pouco do que eu aprendo diariamente, seja com as minhas receitas, dicas ou experiências pessoais e ele me deu a melhor sugestão que eu poderia ter recebido: “por que tu não cria um blog?”. Sabe quando a ideia parece tão óbvia que tu nem pensa e já sabe que é isso que tem que fazer? Pois bem, desse papo leve e divertido nasceu um projeto lindo, cheio de amor e propósito, nasceu o Bem Mais que Salada.

Nessa fase, eu acreditava que o blog seria algo que eu faria em paralelo à minha profissão. Esqueci de mencionar antes que eu sou formada em Arquitetura, que na época, eu já atuava na área a 18 anos e acreditava de verdade que era a profissão que eu iria exercer para o resto da vida, até porque cresci escutando que a gente precisa escolher uma profissão, se aperfeiçoar nela e nos esforçar para ser sempre melhor. Bom, veio o Universo e me mostrou que a gente pode ser o quê e quantas versões a gente quiser, que o importante é entender nossa missão nesse jogo chamado vida e tentar ser a nossa melhor versão nela.

Escrevendo assim parece que foi fácil tomar a decisão de abandonar minha carreira na arquitetura, só que não foi bem assim. Na época eu era arquiteta associada em um dos melhores escritórios de Novo Hamburgo. Tinha sócios e uma equipe incrível, então por que estava me sentindo tão infeliz? Foi desse questionamento e do desconforto que estava sentindo, que comecei a me perguntar “e se eu largar a arquitetura?”. Era tanto “e se” que algumas vezes eu precisava abandonar tudo e só ir para o banheiro do escritório chorar, sem entender o que estava acontecendo comigo. Bom, foi quando eu decidi que mesmo não sabendo o que eu ia fazer dali para frente, de uma coisa eu tinha certeza, eu não queria mais trabalhar como Arquiteta. Uma das decisões mais difíceis e ao mesmo tempo mais libertadoras que já tomei. Resolvi tirar o famoso ano sabático, consciente de que era um privilégio, aproveitei ao máximo para aprender e colocar a mão na massa, literalmente. Cozinhei mais nesse período do que provavelmente tenha cozinhado em décadas, mas a cada nova descoberta, um novo brilho no olhar e a vontade em compartilhar o que estava aprendendo.

O blog estava lindo, cheios de feedbacks positivos e muitas pessoas se sentindo inspiradas a cozinhar de uma forma mais saudável. Só que a gente não consegue pagar as contas só com feedbacks positivos, né?! Comecei a estudar sobre empreendedorismo e percebi que o que foi uma das minhas maiores dores ao mudar meus hábitos alimentares, é também a dor de muitas pessoas a minha volta: Como substituir o leite e seus derivados na alimentação? Foi respondendo a essa pergunta que criei a Pura Planta. Uma empresa com valores tão alinhados ao meu estilo de vida, que ainda hoje fica difícil separar minha vida pessoal da profissional.

O nascimento da minha empresa acabou marcando o meu renascimento.

Próximos capítulos – CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO

Sobre o futuro, minhas únicas certezas são de que eu quero estar aprendendo continuamente e a poder compartilhar esse conhecimento com os outros, seja com receitas, dicas sobre alimentação, seja o assunto que for. Acredito que só podemos construir algo maior, juntos e essa é a razão de estar tão feliz em fazer parte desse time de mulheres incríveis que a Roberta reuniu para fazer parte do seu site. Serão tantas trocas de aprendizados, de experiências e de conhecimento que se a gente não soubesse que tudo acontece no momento certo, já estaria se perguntando: por que ela não pensou nisso antes?!

 

Loris Valim é natural chef, fundadora da Pura Planta e do blog Bem Mais que Salada

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *